Cheguei a Portugal em 2008 para concluir o 12o e ingressar seguidamente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto para o curso de economia.
Precisamente em Outubro de 2011, por falta de aproveitamento académico perdi o direito a bolsa de estudos que suportava toda a minha estadia em Portugal, nomeadamente, alimentação, alojamento, saúde, propinas e materiais didáticos e outros.
A partir dessa data confrontei-me com dificuldades de vária ordem, pois começaria o maior desafio que alguma vez sonhei enfrentar. Tive em termos teóricos, duas alternativas, a primeira, ficar em Portugal, a segunda, regressar para a Guiné-Bissau sem o cumprimento do objetivo que me trouxera em 2008 para cá, que era o de ter uma formação académica superior.
A segunda alternativa só existiu em teoria, pois por tudo o que me motivava e, por toda a herança que a minha família sempre me transmitiu, o caminho único, seria permanecer em Portugal e nunca equacionar desistir dos estudos custasse o que custasse em termos financeiros e em termos emocionais.
Permanecer em Portugal e, consequentemente continuar a estudar, só foi possível com o apoio da minha família, que no entanto, não conseguiria suportar na totalidade os encargos que a permanência em Portugal exigia.
Abriu-se assim uma campanha de pedidos de ajuda à várias entidades, públicas, não governamentais e à amigos e colegas que a vida na universidade me pôde oferecer. Importa aqui mencionar a Associação África Solidariedade na pessoa da Dra. Maria Manuela Lopes Cardoso, todos os seus membros de pleno direito e mecenas;
A Pastoral Universitária do Porto na figura do Padre Bacelar e todos os seus colaboradores e voluntários;
os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto, nas figuras do Dr. João de Carvalho, da Dra. Cristina Sampaio, da Dra. Isabel Basto e todos os funcionários que sempre me trataram pelo nome;
e, por último, jamais esquecer, os meus amigos da faculdade que sempre me acolheram e me prestaram das mais imensuráveis ajudas, mas a estes, reservo-lhes um lugar mais amplo, onde poderei homenageá-los e agradecer a cada um tamanha transmissão de humanismo.
Foi assim que durante seis anos letivos consecutivos, pude usufruir de uma bolsa de estudos da Associação África Solidariedade para o pagamento das propinas, apoio esse que por muitas vezes teve de ser canalizado para satisfazer necessidades mais básicas e inadiáveis deixando assim o pagamento das propinas para segundo plano, pois sempre segui a lógica de, melhor ter tecto e comida do que ter escola paga mas não ter corpo nem mente para aprender.
Apesar de 10 anos de muito sacrifício, por parte de todas estas pessoas (no fundo só foram pessoas), para apoiar a minha causa, e de todos os trabalhos que tive de fazer para tapar os buracos que mais ninguém conseguiria tapar naquele instante de tempo. Apesar de tudo que possa ter sido doloroso, considero-me um sortudo deste mundo, por nunca me terem faltado pessoas de bem, pão, tecto, e, felizmente nunca ter ficado sem a almofada que alimenta todos os meus sonhos.
Porto 14 de abril de 2018